Sobre o Dia Mundial da Poupança em tempos de pandemia por Covid19: 66% dos consumidores portugueses consideraram prioritário melhorar a sua segurança financeira
|De acordo com o Inquérito Internacional de Literacia Financeira promovido pela OCDE os países do noroeste da Europa apresentam os melhores desempenhos, chegando a Noruega e a Suécia a apresentar, em 2018, uma percentagem de adultos com literacia financeira de 71%, enquanto os países mais a Sul, como é o caso de Portugal apresentava uma percentagem de 26%, a pior em toda a Europa Ocidental. Além disso, a taxa de poupança das famílias portuguesas era quase metade da média dos europeus.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de poupança em Portugal, em 2020, cresceu 9.6 pontos percentuais. Também segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), no final desse ano, Portugal apresentava uma taxa de poupança de 12,8% face aos 7,1% de 2019.
No mesmo sentido o inquérito internacional à literacia financeira dos adultos de 2020, promovido pela OCDE, revelou dados positivos em termos da literacia financeira portuguesa, tendo Portugal ficado em 7º lugar no indicador global de literacia financeira, alcançando 13.1 pontos (de 21 pontos possíveis), um pouco acima dos 12.7 pontos que constituiu a média dos países participantes.
No entanto, segundo um estudo realizado nesse mesmo ano pela Intrum, empresa de gestão de crédito líder de mercado, baseando-se em três indicadores: “capacidade de pagar as contas”, “poupar para o futuro” e “literacia financeira”, Portugal ocupa o 19º lugar no ranking geral dos 26 países, estando apenas à frente de cinco países: Hungria, Polónia, Espanha, Itália e Grécia.
Na verdade, se houve uma evolução positiva de Portugal no que diz respeito à literacia financeira, passando da 14ª posição em 2019 para a 8ª posição, nos outros dois indicadores analisados (“capacidade de pagar as contas” e “poupar para o futuro”) Portugal está mais próximo do fim da tabela, encontrando-se em 22.º e 19.º lugares, respetivamente. E são os grupos etários entre os 22 e os 44 anos “os que revelam maiores constrangimentos para pagarem as suas contas nos prazos”. Quanto à “capacidade de poupar para o futuro”, segundo a Intrum, “Portugal continua a não ter uma posição muito animadora”, estando em 19º lugar, tendo baixado uma posição na classificação em relação a 2019.
O estudo aferiu, ainda, o impacto do covid-19 no rendimento das famílias. No caso de Portugal, “49% dos homens dizem que o seu rendimento diminuiu como resultado da covid-19, valor substancialmente superior à média europeia que é de 36%”. Para tentar minimizar os efeitos desta quebra, o corte de gastos em bens não essenciais foi a mais referida: 54% indicou que foi o pagamento de habitação (empréstimo ou arrendamento), seguidos do pagamento do cartão de crédito, descoberto e empréstimos pessoais e do pagamento do crédito automóvel.
Segundo o European Consumer Payment Report 2020 (ECPR) da Intrum “há um interesse particular dos consumidores do sul da Europa em alcançar uma situação financeira mais saudável.”
Com efeito, “quase metade (47%) dos entrevistados indicam que a segurança financeira se tornou um objectivo pessoal fundamental” e “40% está a melhorar activamente a sua educação financeira para se preparar para a incerteza económica futura”. Esta tendência crescente de consciência financeira dos consumidores resulta da instabilidade económica que surgiu com a pandemia Covid-19, no início de 2020.
Na verdade, segundo o estudo, “as implicações económicas da pandemia impactaram o rendimento e os hábitos de consumo da Europa e aceleraram as diferenças financeiras entre os grupos de consumidores: As pessoas com menores rendimentos tendem a terem sido mais afectadas pelas perdas de rendimento e o desemprego, como resultado das restrições. Isso é mais evidente no sul da Europa, onde 49% dos consumidores gregos e 47% dos consumidores italianos e portugueses afirmam que o seu rendimento diminuiu como resultado da pandemia. Por outro lado, os consumidores que conseguiram manter os seus empregos e trabalhar em casa encontram-se em melhores condições financeiras do que antes do início da pandemia.”
O ECPR 2020 concluiu, assim, que “há um interesse particular dos consumidores do sul da Europa em alcançar uma situação financeira mais sólida: mais de seis em cada dez (66%) consumidores portugueses e romenos afirmam que melhorar a sua segurança financeira se tornou uma das suas principais prioridades desde o início da crise da Covid-19.”, conforme o quadro seguinte o demonstra:
Assim, apesar do crescente interesse pela literacia financeira em Portugal que se tem verificado nos últimos anos, o assunto é, cada vez mais, fundamental para os consumidores portugueses que se sentem pouco preparados para a presente crise resultante da pandemia por Covid-19.
Consideramos, assim, fundamental promover as competências fundamentais no âmbito da literacia financeira e, também, económica (pois uma não pode ser dissociada da outra), de modo a alterar os comportamentos a longo prazo dos portugueses.
Curiosamente ou não, se analisarmos os estudos da OCDE sobre os currículos, constatamos que a componente financeira é inexistente nos currículos portugueses, conforme o gráfico ilustra:
In: E2030 Curriculum Database © OECD 2020
Entendemos, assim, que se deverá apostar mais na formação dos jovens nesta área uma vez que são eles que irão, em breve, começar a ser financeiramente independentes e é precisamente após os 22 anos que esta necessidade é sentida com maior ênfase. Além destes, também urge apostar na literacia económica e financeira desde cedo nas escolas, designadamente logo desde o 1.º ciclo.
A pandemia por Covid-19, acentuando as diferenças financeiras entre os consumidores, veio demonstrar que o que tem sido feito até agora a nível da literacia económica e financeira não é suficiente e que ainda há muito a fazer, designadamente nas nossas escolas.
A APROCES