Qual a situação de Portugal a nível da literacia financeira?

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Após o nosso artigo que publicamos em https://www.aproces.org/aproces-alerta-para-falha-grave-dos-atuais-planos-curriculares/, podemos questionar-nos qual a situação de Portugal face à abordagem da literacia financeira?

Segundo alguns estudo a que tivemos acesso, verificamos que:

  1. A OCDE (E2030 Curriculum Database © OECD 2020) refere que o currículo nacional não contempla a literacia financeira (Contents in curriculum (a) Learning areas/subjects);
  2. Também segundo o inquérito efetuado em maio de 2021 pelo Centro de Investigação e Intervenção Social – Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa constata-se que a Literacia Financeira, que integra um dos domínios da nova disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, é dos menos abordados pelos alunos sendo-o em apenas 2 anos durante os 12 anos de escolaridade (Encontros Regionais Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania na Escola 18 de novembro a 6 dezembro de 2021 slide 19) e, além disso, entre o 5.º e o 12.º ano de escolaridade o tempo dedicado à aprendizagem em todos os domínios da área disciplinar é de apenas 800 minutos por ano, isto é, cerca de 13 horas (slide 28);
  3. Segundo o BCE em 2020 Portugal ficou em último lugar (entre os 19 países da zona euro) a nível de literacia financeira, relativamente ao público em geral (https://www.ecb.europa.eu/pub/economic-bulletin/articles/2022/html/ecb.ebart202108_02~5c1e5a116d.en.html).
  4. Também no estudo “Financial literacy and financial resilience: Evidence from around the world” levado a cabo por Leora Klapper (“World Bank, Development Research Group”) e Annamaria Lusardi (“Professor of Economics and Accountancy, George Washington University”), as autoras, medindo a a alfabetização financeira usando perguntas que avaliam o conhecimento básico de quatro conceitos fundamentais na tomada de decisões financeiras (conhecimento de taxas de juro, composição de juros, inflação e diversificação de risco), conclui que em todo o mundo, apenas um em cada três adultos é alfabetizado financeiramente – ou seja, eles conhecem pelo menos três dos quatro conceitos financeiros; as mulheres, os adultos pobres e os inquiridos com baixo nível de escolaridade são mais propensos a sofrer de lacunas no conhecimento financeiro. Isso é verdade não apenas em países em desenvolvimento, mas também em países com mercados financeiros bem desenvolvidos, níveis relativamente baixos de alfabetização financeira exacerbam os riscos do consumidor e do mercado financeiro à medida que instrumentos financeiros cada vez mais complexos entram no mercado”.

A APROCES considera fundamental tomar consciência que o mundo se alterou profundamente nos últimos 30 anos e que as “armas” para o combate às desigualdades e aos desafios num mundo global não se compaginam com as abordagens do século XX.

É indispensável fornecer aos jovens portugueses as competências fulcrais que lhes permitam vencer os (grandes) desafios que têm pela frente na aldeia global.

Os alunos aprendem aquilo que vivem, aquilo que lhes está próximo, de que se apropriam e que desenvolvem em trabalhos de projeto, interdisciplinares, que se traduzem numa análise crítica da realidade atual. Realidade essa que apenas é abordada a nível das chamadas ciências sociais e humanas e, em particular, nas disciplinas económicas e sociais.

Existem, assim, competências que são fundamentais no século XXI e que não são proporcionadas ao longo dos 12 anos de escolaridade (apenas com uma exceção para os alunos que, no ensino secundário, frequentam o curso de Ciências socio económicas).

Quando falamos em Literacia Financeira não podemos, todavia, esquecer-nos que esta falta de promoção de competências não é apenas restrita ao ponto de vista financeiro, mas também económico, que é bem mais abrangente e relativamente ao qual também já alguns autores e estudos se debruçaram. Afinal a “Economia” está em tudo na nossa vida. 

Assim interrogamo-nos:

  • Que saberá o aluno sobre a realidade que o rodeia e em que se pretende seja um cidadão ativo e responsável?
  • Que saberá o aluno do século XXI sobre a realidade portuguesa, sobre a realidade europeia ou sobre o mundo que o rodeia?
  • Que saberá sobre a “Economia”, de que hoje tanto se fala?

A APROCES tem, assim, um papel importante a desempenhar em prol do futuro de todos os alunos, no sentido de promover o acesso a competências de literacia económica (financeira). Tem sido esta grave falha que temos feito chegar junto do Ministério da Educação, dos diversos grupos parlamentares, dos pais e encarregados de educação e da comunidade em geral.

Contamos com todos os colegas que na Escola podem marcar a diferença, certos que pela nossa parte continuaremos a apoiar e divulgar as diversas iniciativas que sabemos estão a desenvolver através de projetos, de dinamização das áreas disciplinares quando os alunos terminam o 9.º ano de escolaridade, etc.

A DIREÇÃO