“Os professores vão continuar a fazer milagres, mesmo que não lhes seja reconhecido o mérito”
|A APROCES recebeu o testemunho de uma colega que aqui publica nesta rubrica “VOZ DOS SÓCIOS”.
FAÇA-NOS CHEGAR A SUA OPINIÃO, uma reflexão, um livro que leu e queira partilhar.
Obrigada colega pela sua reflexão.
“Nesta fase que o Mundo atravessa com efeitos a todos os níveis, designadamente na Educação, mais de 296 milhões de crianças estarão sem aulas, segundo números da UNESCO.
Nesse sentido, as Escolas estão a reorganizar os horários dos alunos, dando orientações aos professores.
Seguindo as orientações da UNESCO (vidé https://news.un.org/pt/story/2020/03/1706691?fbclid=IwAR2dhXPEMN0-KW_BERqkgK5ytpWmoOcQTIxF0pKU9fhfwE3XNYfvyAeaiis ), a Direção Geral de Educação emitiu 8 princípios orientadores do Ensino à distância, que podem ser consultados em https://www.dge.mec.pt/noticias/roteiro-8-principios-orientadores-para-implementacao-do-ensino-distancia-ed-nas-escolas
Um dos vários aspectos para que gostaria de alertar é a duração das tarefas a propor aos alunos que deve ser menor que aquela que seria levada a cabo caso as aulas fossem presenciais, uma vez que aí teriam sempre um professor presente e verificar-se-ia uma maior interação, que no caso do ensino à distância não existe, pois o aluno estará sozinho.
Segundo a UNESCO: “Mantenha um calendário de acordo com a capacidade dos alunos se concentrarem sozinhos, sobretudo para aulas por videoconferência. De preferência, cada unidade não deve exceder os 20 minutos para o ensino primário e 40 minutos para o ensino secundário.” (recomendação n.º 9).
A Direção Geral de Educação refere “tarefas com um máximo de 20/30 minutos, conforme as faixas etárias” (ponto 3 do documento acima referido), não clarificando a modalidade da tarefa, ao contrário da UNESCO.
A situação não é fácil: opções metodológicas uniformes estabelecidas pelas Escolas? Opções diferenciadas em função dos Professores, dos Coordenadores, das Turmas?
As Escolas terão de definir um Plano e Estratégia de Ensino à Distância para o 3.º período, sem nunca terem/termos pensado nisso, sem nunca termos recebido formação para ensino à distância e sem qualquer forma tradicional de comunicação e mesmo, ouso dizer, eventualmente sem qualquer discussão.
Os professores, ao longo de todos os anos, têm feito verdadeiros milagres, trabalhando fins de semana, muito mais que as 35 horas semanais, agora também, eventualmente sem recursos tecnológicos adequados têm que mudar a estrutura, a metodologia, os instrumentos, etc.
Nós professores não iremos voltar as costas a mais este desafio, pois trabalhamos para os nossos alunos.
Estou certa que, mais uma vez, os professores vão continuar a fazer milagres, mesmo que não lhes seja reconhecido o mérito”.
F.A.