DIA DA EUROPA E DIA MUNDIAL DO COMÉRCIO JUSTO EM TEMPOS DE PANDEMIA
|Ontem, dia 8 de maio comemorou-se, um pouco pelo Mundo, o 75.º aniversário do final da 2.ª Guerra Mundial. Celebrado de uma forma diferente pelas circunstâncias impostas pela pandemia que atingiu o mundo globalizado.
Hoje dia 9 de maio, celebra-se o Dia da Europa e, este ano por ser o segundo sábado de maio, também o Dia Mundial do Comércio Justo.
Embora com as diferenças que conhecemos, o princípio subjacente, em ambos os casos, neste dia 9 de maio é o da solidariedade que está na origem e que orienta as atuações da então Comunidade Económica Europeia e que também presidiu à criação da Fair Trade Organisatie. Esta foi a organização que esteve na base do movimento comércio justo. Podemos, ainda, encontrar valores comuns, tais como a equidade, as condições de vida dignas, as preocupações ambientais, etc.
Segundo previsão de diversos especialistas, a recuperação económica após a crise pandémica será um desafio muito maior do que o resultante de crise de 2008. Na verdade, o surto de coronavírus está a testar a Europa de uma forma que seria impensável há pouco tempo atrás. A proximidade e a amplitude desta crise exigem uma resposta sem precedentes, em termos de escala, de rapidez e de solidariedade.
A Comissão Europeia agiu para dar aos Estados-Membros toda a flexibilidade de que necessitam para apoiar financeiramente os seus sistemas de saúde, as suas empresas e os seus trabalhadores. Assim, os recursos disponíveis nos três fundos da política de coesão (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, Fundo Social Europeu e Fundo de Coesão) serão mobilizados para fazer face aos efeitos da crise de saúde pública.
Após a crise pandémica, enfrentaremos a crise económica e social. Haverá que garantir que a economia da UE estará preparada para se reativar quando estiverem reunidas as condições adequadas, é necessário amortecer o golpe económico. Para tal, há que manter os postos de trabalho e o funcionamento das empresas.
Para responder ao desafio, a Comissão lançou o programa SURE: um novo instrumento que proporcionará até 100 mil milhões de euros em empréstimos aos países que deles necessitam para garantir que os trabalhadores recebam o seu rendimento e que as empresas mantenham o seu pessoal. Isto permitirá que as pessoas continuem a pagar renda, contas e compras de alimentos e ajudará a proporcionar a estabilidade de que a economia tanto necessita.
A Comissão está, igualmente, a trabalhar para garantir o fornecimento de equipamento de proteção individual e respiratória a todos os que dele necessitam. Apesar dos esforços de produção da indústria, os Estados-Membros continuam a enfrentar graves carências de equipamento deste tipo. Como também não dispõem de infraestruturas de saúde suficientes, devem poder deslocar os doentes para zonas com mais recursos e enviar pessoal médico para os locais mais afetados. Será igualmente necessário apoiar a realização de testes em grande escala, a investigação médica, a implantação de novos tratamentos e a produção, aquisição e distribuição de vacinas em toda a UE.
Mas se esta é a situação ao nível das economias da União Europeia, imagine-se o impacto a nível das economias em vias de desenvolvimento …
Também em face dos efeitos da crise do covid-19 (coronavírus), 25 CEOs de organizações de comércio em todo o mundo escreveram ao presidente do G20, Salman bin Abdulaziz Al Saud (Rei e Primeiro Ministro da Arábia Saudita), convidando os líderes do G20 a ajudarem a proteger os pequenos agricultores e trabalhadores agrícolas nos países em desenvolvimento. Consideram ser urgente desenvolver medidas humanitárias para proteger a saúde e a vida das pessoas e, ao mesmo tempo, apoiar medidas económicas para garantir meios de subsistência contínuos, de modo a que se evitem que um elevado número de pessoas sejam literalmente empurradas para a pobreza. Com efeito, as paralisações nos países importadores, embora sejam necessárias para a segurança pública, estão a significar uma queda rápida e severa na procura de bens de pequenos agricultores e trabalhadores agrícolas destas economias vulneráveis.
Quando o futuro próximo é incerto e se prevê uma queda global da economia, o comércio justo pode representar, para os que se conseguirem adaptar na UE (ou em cada Estado, dado o fecho temporário de fronteiras a que assistimos atualmente), o meio para os pequenos produtores contornarem as regras das grandes empresas de distribuição, fazendo chegar os seus produtos aos consumidores e sobrevivendo em tempos de pandemia.
E os pequenos produtores que não se conseguirem readaptar?
O futuro é, por ora, incerto e fazer futurologia é impossível, mas inevitável são as consequências que já nos começam a chegar: aumento do desemprego, aumento da “pobreza” da classe média, efeitos psicológicos do isolamento, aumento dos conflitos familiares, aumento da violência doméstica …
Situações que nos fazem pensar em termos da economia mundial que gira quase exclusivamente em torno da competitividade e do lucro, descurando o ser humano enquanto pessoa.